Por Márcia Rodrigues
As mulheres representam um terço dos profissionais da contabilidade. São mais de 120 mil técnicas e contadoras – eram aproximadamente 105 mil no ano passado. As mulheres avançam, e se destacam em um mercado que, num passado recente, era predominantemente masculino. A paulistana Celina Coutinho é um exemplo: única mulher entre os nove diretores do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo (Sindcont-SP)
Celina Coutinho: “Para a mulher se sobressair é preciso passar confiança e estar muito segura ao tomar grandes decisões”. |
As mulheres representam hoje 34% dos profissionais de contabilidade no País. São mais de 120 mil técnicas e contadoras – eram aproximadamente 105 mil no ano passado. Apesar de admitirem que caíram na profissão por acaso, todas reconhecem que nasceram para o que fazem e se destacam num campo que, em um passado recente, era predominantemente masculino.
A paulistana Celina Coutinho orgulha-se de ser a única mulher entre os nove diretores do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo (Sindcont-SP). A diretora social da entidade, que também é conselheira suplente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRC-SP), decidiu ser contadora quando ainda cursava o ginásio, durante o curso técnico de auxiliar de escritório. No curso, ela conheceu um pouco do trabalho do contador e se identificou bastante com a função. “Resolvi, então, fazer o curso técnico de contabilidade”, lembra. Não demorou muito e começou a trabalhar numa multinacional alemã, na qual ficou por 28 anos – 23 destes como gerente.
Atualmente, Celina presta serviço de consultoria para muitas empresas e é muito disputada no meio contábil. “Hoje posso escolher onde quero trabalhar. Mas para a mulher se sobressair é preciso passar confiança e estar muito segura ao tomar grandes decisões”, comenta, acrescentando que, em todo o seu tempo de profissão, não sofreu nenhum preconceito por ser mulher. “Acho que a única coisa que me vem em mente sobre isso é quando a empresa recebia a fiscalização. Eu sentia pelo olhar do fiscal que ele esperava a presença de um homem e não de uma mulher. Mas com diplomacia saía da situação e mostrava a minha competência.”
Seguindo os passos de seus pais, a professora de Ciências Contábeis do Centro Universitário Nove de Julho (Uninove), Claudete Ferraris, ingressou na área de contabilidade. “Desde pequena acompanhava o trabalho do meu pai e gostava do que ele fazia. Com isso, comecei a me interessar mais pela profissão e, quando tinha que escolher a minha carreira, optei por dar continuidade ao trabalho dele”, diz.
Claudete Ferraris: desde pequena acompanhava o trabalho do pai contador. |
A mulher hoje tem muito espaço para lecionar
A professora tem jornada tripla de trabalho. Dá aula todas as noites no curso da Uninove, trabalha em seu escritório durante o dia e ainda precisa coordenar os afazeres domésticos. “Amo o que faço e não me canso de trabalhar. Preciso sempre estar atualizada com os acontecimentos da área contábil para não falar nenhuma besteira para os alunos e incentivá-los a buscar cada vez mais conhecimento na sua carreira”, conta.
Assim como Celina, Claudete afirma que não sofreu nenhum preconceito na profissão por ser mulher. “A mulher hoje tem muito espaço para lecionar. Inclusive, a grande maioria dos professores é mulher. O único risco que corremos nesta profissão é dos alunos passarem a nos ver como mães. Mas sabendo trabalhar, não teremos nenhum problema”, brinca.
A encarregada do departamento de expediente da Organização King de Contabilidade, Elvira Carvalho, acha que a mulher que investe na área contábil tem mais chances de se dar bem na profissão do que os homens. “A mulher é polivalente. Ela consegue coordenar várias funções ao mesmo tempo e isso fortalece muito o seu trabalho. Principalmente na área contábil, que exige mais do que matemática, como muitos dizem. É preciso organização, atenção, disciplina e intuição para tomar a melhor decisão. E isso nós mulheres temos de sobra”, afirma.
Pelo menos no grupo King esta teoria é levada a sério. Dos 40 profissionais que trabalham no escritório, mais do que 30 são mulheres. “Além de profissionais dedicadas, também somos mais humanas do que os homens. Quando um cliente chega com um problema, independente se ele é de pequeno ou grande porte, temos que tratá-lo da mesma forma e apontar uma possível solução, por mais complicada que seja. A experiência nos permite isso e não há nada de mal em ser humano nesta profissão”, diz.
Alaide da Silva Pereira Vitorino: a mulher é organizada e mais humana. |
A diretora social do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis (Sescon-SP), Alaide da Silva Pereira Vitorino, concorda com a opinião de Elvira e reforça que, além de organizada e mais humana, a mulher tem uma cultura muito forte de realizar um trabalho preventivo com o cliente, impedindo que seja surpreendido com qualquer anormalidade na sua rotina de trabalho. “No meu escritório, por exemplo, eu percebo que as mulheres se preocupam mais em orientar o cliente do que corrigir erros resultantes de trabalhos executados sem uma orientação precisa do que deveria ser feito. Além disso, elas não se incomodam de ligar para o cliente inúmeras vezes para lembrá-los de uma data ou de um trabalho que deverá ser realizado em breve”, conta.